segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Chico de Itaici [e outros comerciantes e negócios de Indaiatuba antiga]

texto de Ejotaele*

Em Itaici, havia o botequim do rotundo "Chico de Itaici", contíguo à estação ferroviária, onde, além de outras petisqueiras servidas com gosto e arte, os viajantes reclamavam como quitute dos deuses, os monumentais pastelões, que ainda hoje os lembrarão com estalos na língua. E custavam apenas 1 tostão.

De açougues havia dois retalhistas, o Humberto Lira e o Felipe Naufel. 

Uma pequena quitanda era do velho Cartoti que supria bem toda Indaiatuba. Por um tostão comprava-se ali quase um cacho de bananas e por vintém enchia-se os bolsos de pés de moloque e canudos...

No ramo da barbearia, havia o salão do Andó, do Ettore Mosca e do João Cominatto, o conhecido e boníssimo "João Barbeiro", pessoa engenhosa e de espírito investigador que conseguiu formar em sua casa um pequeno museu de coisas antigas e originais, que hoje valeriam uma fortuna.

Os sapateiro de Indaiatuba, dessa época, eram todos italianos, entre os quais lmbramos Frederico Borguiu, Pavanelli, Cardinali, Otranto o"Ratão", Canata e o velho Pínfari.

No setor dos construtores, figuravam o velho Zoppi, italiano muiot patriota, "della punta di Ancona dove si vede il maré", que deixou numerosa descendência. Davi Dutra, Nho Nito de Campos, Luiz Laurenciano, todos antigos moradores da cidade. A estes, deve Indaiatuba, grande parte de suas construções civis.

Havia ainda o Juca Romão, construtor de fossas e poços e o "João Bezouro", que eram os pedreiros dos nobres. O comércio hoteleiro era modesto, existindo apenas dois hotéis naquela época recuada de 1909 até 1915: o Hotel União, da viúva Bortolotti e o famoso "Hotel Bela Vista" do conhecidíssimo  baiano Hemetério Rodrigues.

Mais tarde surgia o "Hotel Bela Jardineira", dotado de instalações mais modernas, cujo proprietário era Francisco Boselli.

Todas as mercadorias destinadas ao comércio de Indaiatuba desse tempo, vinha exclusivamente via Estrada de Ferro Sorocabana, porquanto não havia outro meio de transporte e locomoção. Invariavelmente, a Sorocabana tinha seus atrasos... Imagine-se com que dificuldades lutavam aqueles negociantes, muito embora, o Chefe da Estação, Elpídio Medeiros, funcionário correto e cônscio dessas vicissitudes do comércio, em parte as superasse com a boa vontade que o caracterizava.

Para os transportes das mercadorias, da estação às casas comerciais, os negociantes utilizavam-se do único meio de condução: a tradicional carrocinha do Antônio Laurenciano, ou mais apropriadamente, do velho "Canivete" como era conhecido, que fez do seu mister, o que se poderia dizer a "mística do batente", tal era a boa vontade de bem servir e "salvar" os negociantes dos atrasos ocasionais pela Sorocabana.

Falecendo o velho "Canivete", passou a ocupar o mesmo trabalho árduo, mas honroso, seu filho Ernesto Laurenciano, que seguiu as pegadas de seu progenitor, até que os primeiros veículos à tração moderna começassem a aparecer em concorrência inevitável do progresso.

Indústria na cidade, não havia e nem sequer laivos que favorecessem a industrialização mesmo que remota.

Falar em indústria, naquele tempo, era o mesmo que falar em calor na Sibéria.

No entanto, ninguém poderia imaginar do atual surto industrial de Indaiatuba e a sua facilidade de assimilação às conquistas do progresso.

E aí estão as chaminés fumegantes das fábricas, a exortar o avanço civilizador e a arrancar daquele marasmo que se supunha peculiar a Indaiatuba.


Ejotaele escreveu sobre o final do século XIX e início do século XX.


Estação Ferroviária de Itaici

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